Depois de exaustiva procura pelo Piolho do Cramunhão, o repórter Assis Ângelo enfim o localizou nas profundas do Inferno. Depois de rápida negociação, o Piolho concordou em dar uma entrevista. Exclusiva. Mas fez ressalvas: não falaria sobre sua vida pessoal. E não falou. Demostrou não fazer discriminarão na escolha de suas vítimas. Opinou sobre Bolsonaro e seu ministro Mandetta. Babou muito o Cramunhão. Repetiu várias vezes dizendo que sua missão é matar. E que jamais será esquecido.
A entrevista findou com o Piolho irritado, gritando:
Basta, chega de papo!
Não gosto de comunista
Tampouco de gente besta
Que se passa por artista
E não vou mais perder tempo
Com babaca jornalista
A entrevista com o Piolho do Cramunhão, durou uns 40 minutos. Nos seus altos e baixos, o Piolho perguntou quem eram as pessoas que estavam a me acompanhar. Respondi serem do meu staff. Anna: estudante de Artes; Silvio, apresentador de rádio. E Fausto, um dos maiores cartunistas do Brasil. O pilho perdeu as estribeiras ao ouvir o nome Fausto. Lembrou-se, é certo, do personagem que dá título ao romance clássico do alemão Goethe (1749-1832). Na história, Fausto ganha uma aposta do Cramunhão e Deus, como prêmio, o autoriza a desfrutar as belezas e gostosuras do Éden.
Chega de papo e vamos à entrevista, publicada aqui com exclusividade.
REPÓRTER ENTREVISTA PIOLHO DO CRAMUNHÃO
Como repórter que sou
Dedicado à profissão
Passei a correr mundo
Procurando explicação
Não sei o que se passa
Pois só vejo confusão
O mundo está chorando
Muito mais há de chorar
Quem provoca tanta dor
Essa dor tem que parar
É terrível o que se passa
Já nem dá pra suportar
De repente me lembrei
Do Piolho do Cramunhão
Depressa o procurei
Para uma explicação
Gargalhando ele gritou:
A você não falo, não!
Insistente perguntei:
Falar por que não fala não?
Seria você mesmo
O Piolho do Cramunhão
Responsável pelo vírus
Que ataca esse mundão?
Diante da insistência
Começou ele a contar
Disse ser lá do Inferno
De origem milenar
Escalado pelo Cão
Para pôr vírus no ar
Quem me conhece bem sabe
Não sou de brincadeira
Não sou de papo furado
Não sou pouca porqueira
Sou quem pega pra capá
Sem ligar pra choradeira
Todos sabem d’onde vim
Vim da China, sou global
Os meus olhos são enormes
De tamanho universal
Mas acho ser miopia
Isolamento social
Vim de longe bem armado
Preparado pra matar
De nada tenho medo
Quem quiser pode rezar
Esperar não custa muito
Peça ao Cão pra lhe salvar
Quem chora é bicho mole
Não merece salvação
Comigo é diferente
Sou macho sem coração
Pego, mato e como
Como faz bom gavião
Tenho muitos aliados
Que comem na minha mão
São tolos, são coitados
São só buchas de canhão
Quem fala isso sou eu
Piolho do Cramunhão
Perguntado se tem pai
Se tem mãe, se tem parente
O Piolho invocado
Respondeu indiferente:
Isso não interessa
O meu caso é papá gente
Pego homem, pego mulher
Pego preto, pego branco
Eu não faço distinção
Sou desse jeito: franco!
Mas de mim poucos escapam
Sou pior do que um cranco
No inferno tem lugar
Pra todo tipo de gente
Alto, baixo, gordo, magro
Feio, burro e crente
Não tenho preconceito
Sequer contra parente
Sou vírus democrático
Mato macaco, leão
Tigre, burro e pato
Fácil, fácil gavião
Pra pegar um cabra besta
Basta ir na contra mão
Dizem que só pego velhos
Mas jovens pego também
São esses os mais fáceis
Pela burrice que têm
Não aceitam ordenamento
E só fazem o que convém
Pego gente sabida
Doutor, intelectual
Pintor, cantor, jogador
Nessa onda mundial
Jamais vão me esquecer
Não é sensacional?
Estou aqui para brigar
Para por a vida à prova
Primeiro eu capturo
Depois mato e levo à cova
É grande a gritaria
Querem trégua? Uma ova!
Uma hora perguntei
Sobre o Brasil atual
O Piolho respondeu
De um modo surreal:
Eu gosto do presidente
E do Planalto Central
Do Messias Bolsonaro
Dele quis opinião
O Piolho gargalhou
Como faz o Cramunhão
Dando salto, dando peido
Disse apenas: Esse é bão!
Eu gosto desse sujeito
Pelas besteiras que diz...
Não sabe ser presidente
Pois sempre se contradiz
Prepotente até dirá
Não fui bom porque não quis
Esse é nosso Hitler
Com cara de capitão
Fala fino, fala grosso
Dependendo da questão
É sujeito maledicente
Como diz o meu patrão...
Mandetta é inimigo
O seu chefe é meu irmão
O que ele está fazendo
Desagrada meu patrão
Esse tal lá da Saúde
Para mim não presta, não
Calma, muita calma!
Pra tudo tem solução
O Mandetta vai dançar
Na palma da minha mão
Estou de olho nele
Por ordem do Cramunhão
Agora como nunca
Há grana pra combater
Vírus forte como eu
Mas vocês vão aprender
Que depois da tempestade
Será possível viver
Confinamento é bom
Bom também é ver brigar
Homem chorando atoa
E mulher a gargalhar
Tolos, são todos tolos!
Por isso a guerra eu vou ganhar
Idiotas vocês são
Poderiam se amar
Em tempo de quarentena
Pelo menos não brigar
Por isso tantos perdem
Quando poderiam ganhar
Não trabalho sozinho
Há comigo um batalhão
Bem treinado do Inferno
Com soldado e capitão
Sempre pronto pra agir
Com armas da maldição
No mundo ganho fama
De Vírus da Quebradeira
É isso mesmo o que sou
Eu não sou de brincadeira
Quem quiser pode rezar
Pois de fato sou pedreira!
Vocês estão perdidos
Desde que Adão nasceu
Eva, minha amiga
Facilmente o convenceu...
Ao comer aquela fruta
De veneno ele morreu
Pra você vou revelar
Os sucessos dos meus atos
Primeiro, sou invisível
Pronto pra fazer fatos
Segundo, não tenho medo
Nem dos homens, nem dos ratos
Gosto de Cloroquina
De chumbo pra matar rato
Estricnina e funk
Tudo feito pra pato
Teimoso e bobo
Que ao provar morre no ato
Ninguém nunca vai saber
Quanta gente eu vou matar
Na Ásia, Europa
De tudo quanto é lugar
Terrível, como Roberto
Eu boto é pra quebrar!
Mato até na Páscoa
Fazendo o Papa chorar
O mundo constrangido
Não pode nem reclamar
Em tempo de alegria
É hora boa pra matar
Eu não me arrependo
De nada do que faço
Antes planejo tudo
Como quem pega boi a laço
Sou rápido no trato
O que vier pra mim eu traço!
Mas o meu mal é pelo bem
Como diz o Capitão:
Um dia todos morrem
Independente do que são
E chega de chiadeira
Ao trabalho, pelo pão!
Não troque de assunto
Piolho filho do Cão
Responda o que pergunto
Para o bem do seu patrão
Você é um chifrudo
Que não tem educação
Basta, chega de papo!
Não gosto de comunista
Tampouco de gente besta
Que se passa por artista
E não vou mais perder tempo
Com babaca jornalista
Faço chorar o mundo
Sem pena, sem compaixão
O mundo por si não presta
Só presta pra meu patrão
Quem diz isso tem nome:
Eu Piolho do Cramunhão
Vão tentar me controlar
Porém durante anos
Continuarei a matar
Sem dó, sem pena mis hermanos
Detesto profundamente
Todos vocês, humanos!
Dito isso explodiu
Que nem tiro de canhão
Foi um tiro violento
Que deixou marcas no chão
Depois disso gargalhou
E sumiu na escuridão